11º livro lido em 2015
Terminei de ler 24/07/2015
Costumo dizer que o grande livro de Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray, é "um tratado sobre a vaidade". Sem pretensas comparações com o belíssimo clássico de O. Wilde - pois não caberia neste universo tal comparação, entre esses dois livros -, mas acredito poder creditar ao O Talentoso Ripley, de Patricia Highsmith, como "o tratado sobre a inveja". É um belo livro, com uma excelente historia, que se classifica como gênero policial. Que tem como protagonista o anti herói, Tom Ripley, cínico nato, que tem um grande talento para imitar pessoas, além de ser um exímio falsificador de assinaturas.
Ripley é um jovem pobre que leva um vida medíocre morando de favor, na cidade de Nova York, é ambicioso e inteligente, e usa esses seus talentos, para aplicar golpes, tirando vantagens de pequenas fraudes, lesando pessoas, para obter ganhos de dinheiro para si. Um dia o milionário Sr. Greenleaf persegue Tom acreditando que ele é um grande amigo de seu filho que mora na Itália, Dickie Greenleaf. O Sr. Greenleaf, propõe a Tom que viaje para Itália, com a missão de convencer o seu filho a voltar para os Estados Unidos, pois o tal Dickie Greenleaf, se mudou de mala e cuia para o uma pequena cidadezinha litorânea italiana.
Nem é preciso dizer que Tom Ripley viu uma grande oportunidade de se dar bem, pois imagina ter uma viajem bancada para Europa de navio com tudo pago. Tom aceita a proposta vendo que seus dias de trambiques por Nova York tinham acabado, pois faria o que foi pedido pelo figurão, e tentaria se arranjar la pelas bandas do velho continente, aplicando golpes, agora, com mais glamour. Isso não tenha passado pela cabeça do personagem no livro, mas sabe como é, uma vez pilantra...!
Ao encontrar com o tal Dickie, que leva uma vida sem preocupações na cidadezinha italiana, acontece uma afeição estranha de Tom pelo playboy Greenleaf. Fato esse, que não é muito explicito em palavras, pela escritora, de que se Tom Ripley é gay mesmo, mas certo é que nasce uma obsessão de Tom por Dickie. Dickie não vive só na pacata cidade, ele vive para cima e pra baixo com uma "namoradinha", uma linda mulher chamada Marge, com quem Dickie não assume um compromisso serio. Esta começa a ser um empecilho para os planos de Tom, que é de sempre entreter, e ter a atenção do playboy Greenleaf para si. O playboy Greenleaf no começo se empolga com a nova amizade, mas com o tempo começa a observar o jeitinho peculiar de Tom Ripley, e começa a se incomodar por sempre Tom buscar de algum modo querendo o afastar de Marge. Chega a rolar ate uma suspeita de viadagem da parte de Tom. Isso irrita muito Tom, porque traz lembranças de sua velha tia que o maltratava e fazia chacotas quando ele era uma criança, e isso é uma coisa que desestrutura Tom Ripley.
Tom Ripley é um cínico inveterado, sujeito frio e calculista, que não mede esforços de persuadir e de manipular para obter o que interessa, pois para ele, o horror, é voltar para a velha vida que vivia aplicando pequenos golpes. Cresce a vontade de Tom por Dickie de tal modo, que mais do que ter Dickie só para si, Tom passa então a querer ser o próprio Dickie. Ter a vida de Dickie Greenleaf é algo que no começo não estava nos planos de Tom, mas após matar Dickie em um passeio de barco, Tom acaba tirando proveito disso. Falsificando as assinaturas de Dickie, junto com as suas correspondências, Tom vai levando uma vida dupla. Ate que outros acontecimentos começam a coloca-lo em risco. Enfim não da pra contar a historia inteira, por aqui, mas a trama gira sempre na visão de Tom Ripley, e de suas neuroses sobre o iminente desmascaramento.
Acho que o que é tão particularmente notável nesse livro, é a construção do personagem Tom Ripley, tive a impressão de que Ripley, além de despontar para uma possível homossexualidade - o que não fica evidentemente claro no livro - é a de que ele é um sujeito misógino sociopata e assexuado. E de que o primeiro crime que cometeu, tenha um resquício de passionalidade, embora a motivação maior acredito piamente ter sido a inveja.
O livro é bastante envolvente, prende de um modo em que mesmo que se tenha visto os filmes adaptados dele, sabendo sobre certos desfechos, ainda sim rola aquela tensão de saber se o safado do Ripley irá escapar, pois o gajo é liso e sortudo.
O Talentoso Ripley é um ótimo livro, recomendo, uma excelente distração.
Artur César
Art Post Scriptum
Neste 25/07/2015