quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O Leitor - Bernhard Schilink



2º livro lido em 2017
Terminei de ler em 05/01/2017

Hannah Arendt tem uma frase que diz: "Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história". Foi o que me veio na mente enquanto eu sentia o nó na garganta ao terminar de ler essa linda e triste história. Pelos sebos do centro de São Paulo, encontrei esse livro em perfeito estado. Me lembrei na hora do filme que havia visto alguns anos atrás e que me emocionou bastante. Não exitei em separar para leva-lo, e com certeza foi uma das melhores aquisições que fiz no ano passado. Eu simplesmente amei ler este romance de Bernhard Schilink. Gostei tanto que também li em um único dia. 

Achei o conteúdo deste livro de uma delicadeza e de uma intensidade tremenda, de certo enquanto lia, me lembrava de algumas cenas do filme que vi tempos atrás, mas acabei de rever o filme após ler  O Leitor, e novamente, a escrita, na minha humilde concepção superou a dramaturgia, olha que o filme é bom pra caramba e ainda tem a lindíssima - e uma das minhas atrizes preferidas - Kate Winslet. A escrita de O Leitor é algo bem simples e extremamente prazeroso de se ler, pelo menos foi pra mim. A mim este romance contemporâneo (ao pouco que pesquisei o livro foi escrito e publicado na década de 90) é de uma originalidade tremenda, muito verossimilhante.

Fiquei com a ligeira impressão ao longo da leitura que este romance poderia ter sido inspirado também nos relatos de Hannah Arendt sobre o caso do julgamento de crimes de guerras, cometidos por  um ex nazista, que causou uma enorme discussão filosófica e processual com a publicação de alguns artigos, pois a filosofa Hannah Arendt, por quem tenho admiração, e que era judia, acaba comprando uma briga com a comunidade judaica quando exprime seu pensamento intelectivo de que é o nazista em questão era somente um "pau mandando" da alta cúpula do governo totalitário alemão na Segunda Guerra. Isto é até retratado no próprio filme que conta a história da filosofa.

Uma coisa que me deixou feliz nesse livro é que tem uma parte, logo no começo em que o personagem principal, e narrador da história, Michael Berg faz uma referência e um outro romance que amo: O Vermelho e o Negro de Stendhal. É algo bem rápido e coloquial, mas que me deixou contente. Ah outra coisa é que muitos escritores são citados, dentre eles os românticos alemães Schiller e Goethe. Eu como leitor tenho um amor incondicional por Goethe.

Dizia antes da verossimilhança dessa ficção, pois a mim ela se dá justamente por ser uma história triste e de certo modo trágica, algo muito comum que existe aqui fora, em uma coisa chamada: mundo real. Hanna Schmitz personagem em que o drama todo gira em torno, é a suma essência dessa obra, pois tive para comigo que Hanna é apenas vítima de uma vida que não lhe deu oportunidade de se instruir. No livro, não é dito se ela em suas escolhas do passado, que fadaram mais no futuro em sua desgraça, são premeditadas, o que ao meu ver e opção de interpretação, a faz ser no fundo, um ser super inocente e simplório, mesmo compactuando com o maior desastre da história da humanidade o Holocausto. Hanna a mim, é vitima das consequências de suas próprias limitações, e o que é pior, por se envergonhar de sua condição, que a impede não só de escrever, mas de se dar conta dos absurdos elegidos por ela mesma em nome desta vergonha, e que irá lhe custar uma vida inteira para reparação. 

Mas é interessante no romance que, mesmo Hanna, uma mulher 32 anos, sendo esse ser simples e solitário e inocente, é capaz de ajudar a construir uma precoce maturidade em Michael Berg que tem 15 anos quando começa a se relacionar com ela. Os dois se ajudam e um acaba engrandecendo um ao outro na convivência. É lindo o amor de Hanna por aquilo que não pode usufruir por conta própria, a leitura, e que Michael é capaz de proporcionar a ela esse deleite. Eis a sensibilidade e toda intensidade da história nesta parte, pois isso acaba sendo a base da construção de vida de ambos. O drama para ser o drama completo, precisa antes ter algo de belo e puro para ser destruído, e é assim com a paixão de Hanna e Michael, e é assim com a inocência de Hanna cuja uma escolha errada quando mais nova a fez perder sua liberdade, a juventude e principalmente a vida. É triste a condição ignorante de Hanna, como é triste o dever de Michael, que o colocam num impasse que transforma toda sua vida, ou melhor que transformam a vida de ambos.
  
Foi difícil não me emocionar com O Leitor, amei ler esta história que me tocou de uma forma forte e que vou ficar processando isso por muito tempo. Foi com certeza um dos melhores livros que li na minha vida, e que pretendo nunca mais me esquecer, nem de Michael e principalmente de Hanna.

Artur César
Post Scritpum
neste 06/01/2017

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Fahrenheit 451 - Ray Bradbury


1º livro lido em 2017
Terminei de ler em 04/01/2017


Acabei lendo Fahreinheit 451 enquanto lia um outro livro, não que este que estou lendo seja chato, mas acontece que a obra de Ray Bradbury é de uma escrita tão fácil e instigante que comecei e termine de ler este livro no mesmo dia. Foi uma das últimas aquisições de 2016, comprei por impulso motivado à algumas indicações sobre esse livro, e confesso que valeu muito a pena.
É um livro muito fácil e cativante, daqueles que lemos curiosos em saber o que mais o personagem principal irá se meter. Fahrenheit 451 trata-se de uma distopia futurística (detalhe o livro é escrito pós Segunda Guerra, 1953), com uma trama bem construída e altamente reflexiva. 
Ao que percebe-se a história se passa nos EUA, porém, a cidade, não é mencionada.
O personagem principal da história é o bombeiro Guy Montag, que vive em um regime estatal totalitário. Neste futuro os bombeiros já não possuem mais a função de apagar incêndios e salvar vidas, muito pelo contrário, o papel deles é justamente iniciar incêndios e quando necessário, repreender ou até exterminar os causadores das respectivas emergências. Possuir e consumir livros, quais quer que sejam, é um crime gravíssimo para o regime totalitário, e o serviço de departamento dos bombeiros é a entidade "reguladora da moral" nessas situações. Os bombeiros são os responsáveis por destruir quais quer livros encontrado através de denuncias.

Montag lida bem com a profissão até certo dia onde ele conhece Clarisse McMclellan, uma jovem vizinha que na trama acaba sendo a responsável por "plantar o gérmen da curiosidade e do ceticismo" em Montag, indagando-o em conversas triviais sobre questões que não são comuns na sociedade, como por exemplo a "questão absurda" se Montag é realmente feliz ou apaixonado pela sua esposa?! Acontece algo ao chegar em sua casa que o deixa meio ressabiado, Montag encontra sua esposa desacordada após ingerir quase um frasco inteiro de "pilulas para dormir", então ele solicita uma unidade especial fornecida pelo Estado, para casos como esse, que são muito comuns, conforme os atendentes que salvam a vida de sua esposa Mildred, dizem para ele enquanto fazem uma lavagem estomacal junto com uma troca de sangue em sua mulher. Mildred, acorda no dia seguinte, Montag conta o que acontecera, mas Mildred não se importa muito, está mais preocupa com a programação da TV. Situação essa que deixa Montag bastante pensativo e a se indagar com coisas que antes não o preocupava.

Montag começa a perceber então que não é capaz de lembrar quando e onde foi que conhecera sua esposa Mildred, nem de responder com convicção se é uma pessoal feliz, na sociedade em que vive, onde felicidade é algo muito comum nos discursos todos. Literalmente, Clarisse faz com que Montag acabe caindo e si, fazendo-o começar a perguntar se que o que faz no seu trabalho, queimar livros é algo realmente bom para o bem geral da sociedade.

Certo dia Mildred e seu capitão Beatty contam que Clarisse havia morrido atropelada, e que ela e a família dela eram investigados pelo governo por serem questionadores demais. Outro fator determinante que o faz questionar se seu trabalho é realmente algo benéfico, é quando em serviço, Montag e seus companheiros atendem um chamado do dever, onde se veem numa situação de incendiar a casa de uma senhora com uma biblioteca clandestina, e ao tentar salvar a vida da senhora, esta se recusa, preferindo morrer queimada junto com seus livros. Aquilo se torna um absurdo para Montag, que começa a prestar atenção no mundo a sua volta, Montag sai do automático e começa a querer pensar por conta própria, porém não é algo muito simples ir na contra-mão de tudo que lhe foi imposto no regime totalitário que vive. Surge então na trama o personagem de Faber. um senhor que Montag suspeita ser um leitor, Faber é o personagem que ajuda a organizar os pensamentos de Montag, que agora passa ser perseguido por seu chefe Beatty. 

Não irie tratar aqui da história completa, pois a leitura desse livro se trata da um reflexão de como é importante se desgarrar do senso comum imposto sobre quaisquer circunstâncias. Principalmente em uma sociedade que por deliberação própria decide abolir livros/literatura de suas vidas, usando do pretexto de que livros trazem a inquietude, questionamento, aprendizado que precede desconforto, dor, reparação, lembrança de que ter consciência de si e de seus sentimentos é também um impeditivo para o prazer, de que tudo que a sociedade almeja é distrações, lazer e sobre tudo felicidade. Fahrenheit 451 tem uma trama muito inteligente e cativante. Foi um livro que gostei bastante de ler e que certamente indicarei.

Artur César
Post Scriptum
neste 04/01/2017