domingo, 16 de agosto de 2015

Aprender a Viver - Luc Ferry

12º livro lido em 2015
Terminei de ler 13/08/2015

A principio eu iria ler apenas no capítulo sobre o Humanismo, do Aprender a Viver de Luc Ferry, mas acabei lendo o livro inteiro. Peguei emprestado da biblioteca da faculdade, com o objetivo de ler nas férias, e foi o ultimo livro que li antes das aulas começarem. E com este livro conclui a quinta leitura de livro nas férias, me deixando orgulhoso dessa meta.
Luc Ferry neste livro conta sobre os cinco grandes momentos da história da filosofia. O que faz desse um livro de "sedução intelectiva", uma vez que ele instiga em dobro a procurar as obras que Ferry, faz menção, desde a importância e influência, até a imensa significância para a historia da humanidade.

No primeiro capitulo "O que é a Filosofia?", Ferry basicamente diz a necessidade da filosofia ontem (antigamente) e hoje. Necessidade de fundamentar a razão para além das explicações míticas, religiosas, supersticiosas etc. Onde é definida três etapas para construção e consolidação das linhas de pensamentos " As três dimensões da filosofia: a inteligência do que é (teoria) a sede de justiça (ética) e a busca da salvação (sabedoria)". Então Ferry categoriza cada um desses três elementos e faz o encadeamento entre eles, para explicar, explorar também a notoriedade da respectiva corrente filosófica.

Achei engraçado Ferry abster-se de iniciar, como de praxe por Aristóteles e Platão. E ele  começa a tecer dentre os cinco grandes momentos pelos estoicos, e a explicação grega/romana. por "ordem cósmica", tão fundamental para entendimento do pensamento da antiguidade. Que aqui não entrarei em muitos detalhes, pois este capitulo é fascinante, e acaba sendo uma delícia ler sobre "a harmonia, a ordem, o finito, o todo ordenado, o Cosmos. E nesse tecer, Ferry vai usando passagens de livros como intertexto para seguir a sua linha de raciocínio, basicamente neste inicio ele cita Cícero, Marco Aurélio, Epicteto e Sêneca (estoicos romanos). Constrói uma boa explicação sobre o entendimento de 'imanência e transcendência', pois é base para outras compreensões futuras.

O ponto que acho incrível nessa filosofia estoica, e Ferry explica magistralmente é a semelhança do estoicismo com a proposta de vida budista. O "não apego" as coisas, as pessoas, aos sentimentos... para evitar sofrimentos desnecessários, a razão deles (estoicos) para isso vai muito mais além do que estou dizendo, aqui e vale a pena procurar saber sobre. E há também a ênfase em que ele dá sobre como peso das nostalgias e das miragens incertas do futuro, nos impedem de vivermos o aqui e o agora, de um modo muito melhor. Amar os instantes que vivemos no presente como se fossem os últimos. VALE MUITO A PENA LER ESTE CAPITULO!!!
"Esperar um pouco menos, amar um pouco mais", tão atemporal esse pensamento, e mesmo tendo séculos, cabe muito bem nas nossas vidas em muitos momentos nos dias de hoje.

Na sequência, Ferry aborda sobre como foi a vitória do pensamento cristão sobre a filosofia grega. E é importante ressaltar que a doutrina cristã predominou durante séculos. Mesmo impondo o limite da razão para reposicionar primordialmente a fé. Aqui é onde a igualdade é proposta, junto com o amor, como lei universal, contrapondo o pensamento aristocrático grego/romano. E contrapõe também a ideia de finitude estoica grega/romana, pois o cristianismo propõe a imortalidade, a possibilidade de revermos no além nossos antes queridos, assim uma nova maneira de encarar a morte e novos ideais de valores superiores a vida terrena.

No capitulo em que refere o Humanismo, e o inicio da nova proposta cientificista, do ceticismo no lugar da fé, ou se preferir de uma proposta moral humana sem Deus. Eu particularmente acho esse grande momento da historia da humanidade um dos mais fascinantes também, é lindo visto daqui do século XXI. A contribuição desde de Descarte, passando por Copérnico, Galileu, Newtom,  Rousseau e Kant, é um salto tão grande para humanidade, e a laicidade do pensamento, da razão. Ferry não segue o raciocino neste capitulo, seguindo não uma ordem cronológica, mas nem por isso essa parte do livro deixa de ser instigante. Simplesmente maravilhosa a explicação na parte "A diferença entre animalidade e humanidade segundo Rousseau: o nascimento da ética humanista" e logo na sequência como isso inspirou Kant. Este capitulo sobre Humanismo e o pensamento moderno, ele termina com a indagação que também marca a pós-modernidade: "Deus está morto" - fim da estrutura, religiosa e de valores e ideais superiores a vida. 

O capitulo que corresponde a pós-modernidade Ferry se atém principalmente em transmitir o pensamento Nietzschiano. Aqui acredito que acontece uma certa tomada de partido da parte de Ferry, que pelo que pude perceber, não é muito fã de Nietzsche, mas o que também é interessante, pois poucas vezes vi declarações sobre contradições na obra de Nietzsche, e que acho totalmente positiva as considerações de Ferry, mesmo amando o pensamento nietzschiano. Amor Fati, vontade de potencia, forças ativas e reativas, eterno retorno, genealogia e desconstrução da estrutura do pensamento fora da realidade (ídolos) que supervaloriza ideais da política/moral/religião, ou seja fim dos ideais superiores etc. constrói o plano de fundo para no fim do capitulo vim a critica nas interpretações de Nietzsche.

Por fim no último capitulo Luc Ferry dá as suas considerações sobre como foi o impacto do pensamento nietzschiano, e as contribuições para filosofia contemporânea, contando o que veio depois da desconstrução, depois da filosofia do martelo. Comenta como Heidegger contribuiu com a ideia do surgimento do "mundo da técnica" e o decadência da questão do 'sentido'. Aqui ele faz suas considerações também contra o materialismo.
E Luc Ferry abre caminho para sua proposta de "humanismo não metafisico" com base nas seguintes ideias sugeridas por ele: Theoria como autorreflexão (uma nova 'transcendência na imanência'), onde se instauraria uma moral fundada na real alteridade, livre de pretenso interesses. Propondo também uma filosofia de sabedoria do amor.

Achei este livro fascinante, amei ler, e arrastei a leitura por umas duas semanas, pois degustei muito cada capitulo, abrindo mais a minha mente. Vale muito a pena ler esse livro, principalmente quando se preocupa muito com o rumo da atual humanidade. Ele não dá nenhuma formula pronta, trata-se de uma proposta irrecusável para se conhecer melhor as estruturas que deram origem ao nosso pensamento, e para se pensar melhor. 
RECOMENDADÍSSIMO 


Artur César
Art Post Scriptum
neste 16/08/2015