quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Homem Comum - Philip Roth


1º livro lido em 2016
Terminei de ler em 26/12/2016

Este é o segundo contato que tenho com Philip Roth. O primeiro livro que li dele foi O Complexo de Portnoy, livro de uma temática psicológica seria, mas que é escrito em tom bem humorado. Em Homem Comum, Philip Roth emprega a narrativa de um personagem sem nome, onde no inicio do livro é narrado seu próprio funeral. Onde afetos e desafetos construídos ao longo da vida deste homem, se encontram para prestar uma última e triste homenagem.
Dos desafetos deste homem comum, estão a primeira esposa abandonada, e dos dois filhos também abandonados, frutos de um casamento fracassado por conta de uma traição. Desafetos esses que nunca conseguiu reparar o erro, e que o corrói durante a sua velhice. Porém, o homem comum constrói uma nova família com uma modelo, que trabalhava para a agência de publicidade em que ele era diretor de arte. Do segundo casamento é que aparece a pessoa que mais o ama, sua filha Nancy, que o absolve de todos os erros que o fizeram se afastar dela e de sua mãe.
O segundo casamento do homem comum é também arruinado por outra traição por parte dele. O terceiro erro da vida amorosa do homem comum, é o que o mais encaminhou para a solidão, pois sua terceira esposa, uma jovem modelo de vinte e poucos anos, não passava de puro capricho sexual de um homem agora na casa dos 50 anos, bem sucedido na carreira de publicitário, capaz de proporcionar viagens e mimos, como joias caras. Erro clássico do senhor de meia idade que aspira por viver uma ilusória sensação de juventude de anos que não voltam mais. O homem comum descobre seu erro fatal, quando sua jovem terceira esposa não sabe lidar com sua realidade de internações hospitalar, descobre tarde demais que fora um tolo em trocar real amor por sexo. Tudo isso sobre  o preço de anos construídos com a sua segunda esposa, a mais parceira, a quem ele enganara junto com a sua filha, a pessoa que mais iria ama-lo por toda sua vida.

"Não há como refazer a realidade"

A história é trazida em fragmentos aleatórios vividos pelo homem comum, e ajudam a compor um cenário de angustias, incertezas e medo. Um ponto essencial nesse livro está exatamente no tratar do apego a vida justamente nos momentos onde mais se reflete sobre ela, nas doenças. O homem comum passa por algumas cirurgias ao longo da vida, e de alguma forma elas o transformam por dentro como as cicatrizes de recuperação o transformam por fora.
Com o passar dos anos o medo amplia, medo da solidão, medo da mediocridade que o impediu de exercer a arte de pintar quadros, medo da morte, medo de ver o tempo passar e de se sentir impotente mediante os resultados das escolhas feitas. E o medo o impede de reparar o que foi rompido no passado, que ele próprio não cultivou e com desdém  fez sofrer as pessoas mais importantes de sua vida, e que ele nunca conseguiu enxergar muito bem isso.
Tudo isso em nome do imediatismo, da falta de prudência e da fome de sensações, do prazer. Tudo o que conquistara era pouco,ele buscava mais, foi em busca desse mais que nunca bastava, e definhou sozinho na velhice, onde lhe sobrou algum tempo para refletir nos erros de uma vida que poderia ter sido melhor aproveitada, mas que agora não tinha mais tempo dos outros, nem saúde, nem vigor físico para resgatar, mas tinha muita dor, muito peso na consciência e na alma. 

Artur César
Post Scriptum 
neste 28/12/2016