quinta-feira, 29 de junho de 2017

O Animal Agonizante - Philip Roth


4º livro lido em 2017
Terminei de ler em 27/06/2017

Logo de cara, quero dizer que este foi o melhor livro do Philip Roth que já li. Sensacional, visceral, pungente, capaz de provocar a real náusea em quem se limita a acreditar que a verdade/realidade intrínseca da vida humana é linda, e de que no fim, o destino esconde pra todos nos um romance digno de ser contato/compartilhado, pelo simples fato de nos auto-jurgamos como merecedores, hahaha. AMEI LER ISTO, MUITO MESMO, SUPEROU MINHAS EXPECTATIVAS. Expectativas essas que surgiram com a versão filme desta estória. já Advirto que é um livro que tende a causar asco em quem procura a pautar a vida pelos padrões convencionais, "da ordem natural das coisas", me refiro a exatamente quanto casar, ter filhos e envelhecer e feliz para sempre. Admiro muito Roth por esta autenticidade, sinceridade com seus livros escritos, pelo menos com os outros dois que identifiquei isso nele: O Complexo de Portnoy; Homem Comum. Minha curiosidade por Philip Roth surgiu justamente pelo filme Fatal (Elegy, 2008) ao qual o roteiro foi adaptado a partir deste livro.

E como já e normal, a obra literária original é sempre mais completa que a cinematográfica, não que o filme seja ruim, pelo contrario, lembro que adorei o filme quando vi, os personagens principais interpretado por Ben Kingsley e nada mais nada menos que a musa Penélope Cruz. Lembro que me encantei pelo do roteiro do filme, achei altamente genial quando assisti alguns anos atrás, e nos créditos entendi que o roteiro fora adaptado do livro O Animal Agonizante. Eu praticamente virei o animal agonizante, vasculhando sebos e livrarias de São Paulo atrás deste, e quando já nem procurava mais, eis que encontro este belo e único exemplar em vermelho carmim, dando sopa na estante da Livraria Cultura da Av. Paulista enquanto espero uma atendente da loja ficar disponível para pesquisar um outro livro que procurava. Dado interessante que acabei de descobrir é que depois de ler O Animal Agonizante, é que este livro é continuação de um outro livro de Roth que eu já tinha, O Professor do Desejo, ou seja, inverti as ordens, mas ok.

David Kepesh é o personagem principal da obra, é um critico e professor acadêmico - celebridade, na faixa dos sessenta anos - que apresenta um programa cultural na televisão. Erudito e bon vivant, David é uma figura respeitada pela imagem que transmite tanto na faculdade quanto ao publico que o assiste. Porém David, procura não se envolver com suas alunas, até que elas se formem e não possuam mais vínculos acadêmicos com eles. É através das festas que David dá em seu apartamento que as coisas começam a "florir em seu jardim", onde a curiosidade juvenil feminina começa a querer reconhecer o território do refinado homem maduro. David se aproveita de seu status sim para conseguir o que deseja das alunas que quer.

David é um homem no topo da maturidade, tanto em anos quanto em intelecto, em lembranças, se sente consternado por um dia ter se dobrado de joelhos por um casamento que não deu certo, e que lhe rendeu a origem de seu algoz, o próprio filho, que acusa David de ser o pai ausente, o fruto de casca linda perante a sociedade, mas com o sumo podre, incapaz de manter e amar a família que criou. David por sua vez, não se sente culpado pelas escolhas que fez na sua vida, não se sente culpado por ter escolhido sua liberdade, prefere ela (liberdade) ao enclausuramento de um casamento enfadonho e opta, ainda novo, por abandonar mulher e filho.

David é um cara totalmente avesso as convenções tradicionais de dogmas sociais, como casar e ter filhos, ele abomina veementemente essa ideia. Sendo uma pessoa bastante profunda, um erudito fodido, David prefere se ater com que lhe é real, o desejo. É um sujeito sensível sim, capaz de dissertar sobre grandes obras literárias e musicais, mas sobre tudo se sente com a responsabilidade de ser honesto a si mesmo, e de buscar suprir o que anseia. David é um privilegiado por ter sessenta e poucos anos e ainda ser consumido pelo tenro desejo. 

Mas é quando David conhece Consuela que seu mundo vira do avesso, o desejo se transforma em obsessão, paranoia, neuras infundadas. Consuela de fato transforma David em um animal, um animal que agoniza, que agoniza na constante incerteza, na vontade utópica de um renomado magistrado, tutor, que quer estar a par de tudo que acontece na vida de sua amada ex-aluna. Consuela com vinte poucos anos, tem total poder de controle sobre David, e não é o intelecto que proporciona isso, mas sim seu corpo, sobre tudo os seios de Consuela, o encontro do corpo nu de Consuela com os olhos e a vontade de David, gera uma força que a moça não é totalmente capaz de dar conta, mas é capaz de fazer alguma menção quanto ao poder que tem advindo sua jovialidade, do corpo lindo e perfeito. 

O sumo da história oscila entre a erudição de David e a constante perca de si para a paixão incontrolável que sente por Consuela. Razão x Desejo. Philip Roth, em menos de 150 páginas, exprimi maravilhosamente este embate ao qual estamos todos suscetíveis a perca, seja em que fase da vida for. Sentir-se vivo em nome do desejo é o que praticamento todos nos almejamos, mas sentir-se livre dos desejos... provavelmente nunca alcançaremos essa graça antes da morte.

Artur César
Post Scriptum
Neste 29/06/2017 (04:25)

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