domingo, 22 de outubro de 2017

O Estrangeiro - Albert Camus


6º livro lido em 2017
Terminei de ler em 04/07/2017

“(...) O que significa o despertar súbito – nesse quarto obscuro – com os barulhos de uma cidade de repente estrangeira? E tudo me é estrangeiro, tudo, sem um ser para mim, sem um só lugar onde abrigar essa mágoa. O faço aqui, o que significam esses gestos, esses sorrisos? Não sou daqui – também não sou de outro lugar. E o mundo não é mais do que uma paisagem desconhecida onde meu coração não encontra mais apoio. Estrangeiro, quem pode saber o que essa palavra quer dizer. ”* 
Albert Camus.

O Estrangeiro é o segundo livro de Albert CamusTenho resenha sobre o primeiro livro que li dele aqui no blog. Pesquisando um pouco mais sobre a vida de Camus, pude constatar que além de ser de origem argelina (fato que eu já sabia), Camus era de origem muito pobre. E Camus ainda na infância teve um professor que ajudou ele dando bolsa de estudo para que ele pudesse continuar os estudos. E deu muito certo esse incentivo pois esse professor acabou ajudando a construir a formação de um dos maiores escritores franceses do século XX.

Encontrei algumas datas diferentes de publicação do livro, nesta edição da editora Record que tenho, data de 1957. Camus também trabalhou como jornalista enquanto esteve na Argélia. Como na Argélia não conseguia trabalho, Camus vai para Paris. E em Paris, Camus se sente estrangeiro, onde ele relata isso em um diário. A partir daí dá para começar a entender o porquê da obra O Estrangeiro, por Camus não se sentir pertencente à Paris, cidade onde ele escreve o livro. Mas O Estrangeiro é um livro que ajuda Camus a ser reconhecido.

O Estrangeiro é um livrinho bem pequeno em número de páginas, porém é uma obra muito complexa. A complexidade é nítida porque ao acabar de ler, seria e é difícil dissertar/falar sobre ele, se nos fosse assim pedido. A forma como a narrativa é construída, acredito que dá a cada leitor opções subjetivas de interpretações. A escrita narrativa de Camus meio que não te auxilia a um objetivismo explicito, tive bem essa impressão. É como se ele quisesse mesmo que você refletisse sobre quão raso ou quão profundo é o personagem principal, Mersault. Melhor ainda, quão absurdo é condição de Mersault. Por um lado, isso te da possibilidades de reflexões e pensamentos das coisas que acontecem, por um outro o livro é capaz de angustiar quanto essas reflexões que você chega e também pelas que talvez você nem alcançou, mas que sabe que há algo ali a ser pensado sobre. Me refiro sobre a vida desse ser estranho que é Mersault.  Louco isso.

Mersault parece que quer ou gosta de se manter alheio a tudo que lhe acontece na vida, ao seu redor. É como se o personagem estivesse o tempo todo ligado no automático, respondendo apenas aos estímulos como por exemplo de fome, dor, desejo. Onde apenas age porque tem que agir, e dentro dessas ações a percepção, lendo, é que em tudo há uma ausência de sentido. Acredito que amortecido, é uma expressão que classificaria bem Mersault. Amortecido com os acontecimentos. Logo no começo do livro dá para se ter essa impressão, pois o livro já começa com a morte da mãe de Mersault, e que o mesmo conta que não tem muita certeza se foi ontem ou hoje esse acontecido. Assim, ele tem que cuidar dos preparativos para o velório e sepultamento da própria mãe. E Mersault vai relatando isso de maneira muito protocolar, dando aquela sensação de que não há um abalo aparente ou superficial dentro dele com a notícia da perda da mãe e dos afazeres para o cortejo. 

O desconforto que Mersault tem é mais em como se comportar no velório, e não na dor da perda da mãe. Mas ao mesmo tempo, essa não transparência de sua dor, não prova que seja realmente insensível. Acredito que seja isso que Camus quer fazer com que o leitor reflita sobre essa estranheza de lidar internamente com os sentimentos, ou como não lidar com eles, se no caso se interpretar que Mersault é de fato um insensível. Se sim, se Mersault no fundo sofre internamente com a perda da mãe, que maneira incomum de lidar como sofrimento, sem choro, uma maneira particular de sofrer.

Após o evento do enterro da mãe, Mersault conhece uma moça na praia e se envolve com ela. Mersault começa a se relacionar com seu vizinho, com quem ele começa a ter uma amizade. Esse vizinho é um cara meio problemático, que conta para Mersault que tem umas desavenças com uns árabes, que também moram na mesma região em que eles vivem. Mas Mersault parece não se importar com essas coisas que vão acontecendo, totalmente indiferente. Para Mersault, tudo é "tanto faz". 

O clímax se dá quando Mersault e seu vizinho estão em uma praia, com o sol bem forte, e avistam os árabes com que seu amigo tem desavenças. Cria-se uma tensão na situação. Esse amigo e Mersault está armado, porém eles não chegam a se confrontar até então com os árabes, e vão embora. Mas acontecem algumas coisas e Mersault acaba ficando com a arma de seu amigo e volta a caminhar na areia sob o sol escaldante e de novo encontra com o principal árabe, aquele quem seu amigo tem a tal desavença, e cria-se novamente essa tensão de embate. Mersault acaba mantando o árabe com quatro (ou cinco tiros). Então Mersault é preso e vai a julgamento onde é condenado a morte, mas não dá para saber se de fato ele morre no fim do livro. Mas nessa prisão é que acontecem muitas reflexões sobre o personagem e que é meio difícil fazer julgo do que realmente é, ou não é acerca de Mersault. Mersault é o absurdo. Isso é algo que Camus, pelo que ja percebi lendo essa segunda obra e outros artigos, gosta de retratar, temas como: o absurdo; enclausuro; ausência de sentido; suicídio e morte.

O Estrangeiro é uma obra literária filosófica existencialista. Uma das obras mais importantes da literatura francesa. Camus sempre despertou minha curiosidade e O Estrangeiro foi um livro que aguardei muito para ler, talvez tenha lido no momento certo da minha vida pois se tivesse feito isso mais cedo, com certeza não conseguiria captar as impressões que relatei aqui. O Existencialismo sempre me despertou profundo interesse, é uma das correntes filosóficas que tenho grande apreço, simplesmente porque muitas dos meus textos em poesia, eu procuro atribuir as minhas próprias questões existenciais de vida. Camus é um excelente escritor, gostei muito de ter lido O Estrangeiro, e de poder ter tirado e retratado aqui todas as minhas impressões sobre essa obra.


*Cadernos III – A Guerra Começou, Onde Está a Guerra? Editora Hedra. 2014. P.57

Artur César
Post Scriptum
neste 22/10/2017



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